sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Saudade

Todas as vezes que acordo
(de uma noite longa de sono
ou de um cochilo a tarde),
sinto meu coração migrando para os pés
Vio-lentamente.

E só percebo que é pura imaginação
quando sinto ele bater forte
em sintonia com meus goles de choro!

Acho que meu choro é ácido
pois logo que alcança o estômago
volta
e pára na garganta
deixando um rastro de adrenalina pelo caminho.

Aí vem a surdez-mudez
a palidez,
é... minha nudez!

Então retomo a respiração esquecida
e abro os olhos
pra me convencer de que estou em terra firme
(mas não tão firme assim).

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Louvor

Na busca por mim
enxergo que sim:
há peito!

Que me poe em pé
reluto e enfim:
aceito.

Me armo de fé
e olho pro céu:
há vento!

Que leva a dor
(rápido por favor!)
É lento!

Recebo um conselho
do grande senhor,
o tempo:

"Estou ao seu dispor,
e quando cansares:
há leito!"

Cansada,
mas em louvor:
me deito!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O travesseiro

Havia um travesseiro entre nós.
O via entre nós e um travesseiro.
Cá entre nós, havia um travesseiro!
Há vias entre nós e um travesseiro.
A vida entre nós é um travesseiro.

Havia um muro de pó,
atravessei-o

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O fracasso é para os fortes

Fraca sei que fui.
Aço, é o que serei.
Isso é fracasso?
Não sei...

Fracos são os fortes
que têm peito de aço
e medo da morte.

Fortes são os que fracassam,
que buscam seus nortes
quaisquer que os refaçam.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Me troquei por ti

Eu querendo enraizar ao teu lado
e você deságua longe.
Eu, digo terra
você, diz água.
Simplesmente complexo,
este é o nosso reflexo.

E é em meio a este não sei o quê,
por que
nem quando ou onde
que deixo de ser barragem
e assisto o teu deságue.

O que me cabe
é juntar os pedaços de mim
que esqueci por aí...

E fazer as pazes
com o sol
com a lua
com o mar
com a bicicleta enferrujada
com todas as partes de mim que estão abandonadas.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Você por mim

Verdades maduras exploram teus lábios,
amor e candura lhe escapam dos olhos,
humilde e sereno, tu és em verdade
encantador, me canta e me sabe.

Teu beijo anestésico,
teu riso fervor,
teu peito meu lar
teu lar, meu amor.

Te amo, alma de bela existência!
Como és boa sem ter consciência...
Por onde andares, serás um exemplo,
por onde ficares, será este um templo.

Teu ar é divino, inspira bondade
encoraja vidas, dá força e vontade.
Tua sede de vida é bem vinda, é viver
tua crença é linda, é labor e lazer!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Luz intensa

Que grande arrogância do meu pretender
pensar que o impossível eu podia fazer...
Como é que palavras, que são só palavras,
iriam conter tamanho universo que abrange teu ser?

Não me impeço de gritar pro mundo:
Olha, como ela dança!
Ela gira num mundo só dela, espalhando-se em leveza e bem-aventurança!
Olha o seu gingado: é de um pisar firme
a deixar olhares ignorados.

Olha nos olhos dela: tem muita pureza e força,
tem descência e sinceridade,
não tem medo nem tão pouco maldade.

Olha, pode olhar. Chegue perto dela,
lhe dê um abraço,
e diz que fui eu que mandei.

Não me impeço de sentir nem de dizer,
mas nada me basta,
nada satisfaz minha escrita nem meu saber.

Então me convenço:
de usar da humildade e bom senso.
Deixo esta homenagem nas mãos do silêncio.
É só nele que tudo pode ser dito,
assim a grandiosidade que é você
não se limita a poesia: um mero escrito.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Um pouco de nada

Confesso que sim,
tô cheia de tudo
e o tudo é tão cheio
que estou a vazar

me falta um pouco de nada
uma respirada
de nada
só ar

e o nada é tão muito...
onde eu ponho o tudo
pro nada entrar?

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Inevitável

Os olhos profundos,
infinitos e ignorantes a qualquer movimento
delatavam angústia
e reflexão.

Buscavam em meio a um labirinto
escuro
um feixe de luz
que troxesse alívio.

A pausa eterna
entre uma palavra e outra
trouxe lágrimas renegadas,
no lugar da saída.

A boca entreaberta
inspirava socorro,
respirava desespero.
Quente e rarefeito.

Um vazio preencheu a atmosfera.
Densa.

O Silêncio.

Maciço e afiado,
furou meus tímpanos
que suplpicavam por palavras.
Doces.

Nosso amor sangrava
em meus braços.

E tudo ,
tudo o que eu pude fazer
foi chorar.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Jogo de cintura

Você não me entende,
mas fique ciente:
não sou dependente
de sim ou de não.

Quando eu choro,
eu não me ignoro:
eu grito e imploro,
me jogo no chão.

Se for meu tropeço,
me viro do avesso:
finjo que esqueço
ou peço perdão.

Se apertar o passo,
eu troco o compasso:
te dou um abraço
e ganho a razão.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Olhos cheios de nada

Mas quando seus olhos ficarem vazios,
não olhe nos meus, nem sequer me toque.
Congelam-me o peito olhares tão frios...
Me quebram ao meio, me deixam em choque.

Tamanha é minha dor por sua conduta
de esquecer da alma e pedir por sexo,
que fico sem cor, me sinto uma puta.
Meu olhar se apaga e vaga perplexo.

E vejo o espaço que não quero ver,
que está em seus olhos e entre os nossos...
Neste amor escasso a me oferecer,
Cortando-me a pele, a carne e os ossos.

Pra quê insistir nesse amor profano?
Não vê que entre nós há tanta pureza?
Me diga com os olhos um puro "eu te amo"
ou deixe-me só com minha tristeza.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cruel poesia

A poesia latente que em meus braços pede ajuda
grita, chora, corre, voa e me afunda
pede mais e mais de mim
do que sobrou do mim do meu eu.

Pede o máximo de liberdade que eu nunca libertei
deixe-me estar, deixe-me ser
as palavras se atropelam no caminho
que me leva a esta súplica infantil
de quem tem preguiça da perfeição,

e o leve sentir tem peso de chumbo
e a vida toda é só distração, destruição
de solo fértil

a vida é estéril e verde
é broto amargo.
injusta, madrasta.
a vida engana os poetas.

A vida é linda como a lua, é longe como a lua,
é o reflexo da lua no lago.
Os poetas: crianças aprendendo a nadar
ilariamente iludidos de poder alcançar a lua
e quando chegam no meio do lago,
a vida escorre entre os dedos.

Zardoz


Um detalhe no cenário
Um motivo imaginário...
O pretexto perfeito,
previsto,
eu insisto: já sabia de tudo!
Você, eu
Um filme, um vinho...
O futuro.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Resgate

Que vontade, que saudade
Das tardes quentes e laranjas
Pés de terra, mãos de arte
Os olhares de criança.

Um dia

Ah, se um único dia fosse igual a você...
O Sol chegaria de mansinho
Conquistando cada folha de todo verde, cada gota de toda água, cada sopro de toda vida.
E quando desperto, metade de tudo sorriria à sua graça de ser e estar.

O calor revesaria com a brisa o prazer que à pele dá.
Todas as flores exalariam seus perfumes juntas, impregnando o ar de boas lembranças.
As árvores secas dariam frutos aos gostos
E flores á esboços de espontâneas poesias.

Neste dia não haveria grades reprimindo o vôo de nenhuma ave
E todos os colibris poderiam beijar por aí!
Ninguém sentiria falta de abraços,
Ninguém sentiria medo da boa intenção de um palhaço.

Não haveria buzinaço!
Todas as músicas se fundiriam num silêncio fetal.
Os cegos amariam a vida por ver Deus na escuridão.
Os pecadores cairíam de joelhos, arrependidos e perdoados.

Todos os seres humanos se sentiriam abençoados, e,
Não existiria religião...
Se um único dia fosse igual a você,
Todas seriam uma, e este dia, a oração.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Jogo dos sentidos

Desistir.
De que?
Por que?
Para que?

Desistir de acreditar que há solução,
entre soluços, sins e nãos:
precipitação,
agir na emoção!

Desistir por se achar mais importante,
mais saciante, por achar por um instante
que o amor não é bastante:
insatisfação viciante!

Desistir para fugir
da responsabilidade
de aceitar toda verdade
e ainda assim encontrar felicidade!

Des-existir: assassinato!
É o medo nato, de engolir
o que está no prato.
Isto é fato!

Não vou deixar que o tato e olfato,
a vista,
o som e o gosto bom
me escravizem e dêem o tom!

Isto é entre mim e eu mesma...
Colocando as cartas na mesa
e ditando as regras
de qualquer jogo que surgir.

Regra número um:
não desistir!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Nós veloz

A constância da certeza
A certeza do constante
Uma valsa bem dançada
Um capricho da perfeição
Dedos apontando para a mesma direção
O alívio da meta cumprida
A vida maestrada, e obedecida
Compreensão mútua
Não pensar para sorrir
(suspirar suspiros alados, tremeluzir as pálpebras e o abraço integral)
Toda a pele satisfeita
Pausa para a felicidade
Poesia infinita
Eternidade...

Samba de Corda

Não foi sem aviso a dor do deslize.
Nunca me foi dito que eu não cairia,
Mas andar em corda bamba
nem sempre é samba!
Às vezes é,
mas nunca sempre será...
A vida venta
e a corda balança...
Há dias que o corpo
não entra na dança
Há dias que a vida
o vento
a corda
e tudo
só cansa!
Me sinto invadida pela ventania e
me vejo tão leve nesse soprar...
Como uma pétala de dente-de-leão
frente ao sopro de uma criança despreocupada.
E vou do céu ao chão
vou do ódio ao perdão
do sim ao não
do nada ao delírio
vou do bambear ao equilíbrio.
E volto para a corda bamba
e volto a escutar o samba...